Pesquisa da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, identificou genes
relacionados às características de promoção de crescimento vegetal na
Rizobactéria Promotora de Crescimento de Plantas (RPCP) Bacillus
sp. RZ2MS9. O estudo mostra que a bactéria, encontrada no solo da região
amazônica, produz o fitormônio Ácido Indol Acético (AIA), que tem efeito
benéfico no crescimento de diversos cultivos, como os de milho e soja, podendo
aumentar a produção agrícola. O trabalho da biotecnóloga Bruna Durante Batista
foi orientada pelos professores João Lucio de Azevedo e Maria Carolina Quecine
Verdi.
Na camada fina do solo ao redor
das raízes das plantas, também chamada de rizosfera, está o foco de
significativo número de cientistas em busca de um desafio: alimentar quase 10
bilhões de pessoas em 2050. Uma dessas pesquisadoras é Bruna, que em 2010
cursava o último ano do curso de Biotecnologia na Universidade Federal de
Alfenas (Unifal), quando veio fazer seu estágio curricular de fim de curso na
Esalq. “Naquela época, ingressei em um projeto que buscava isolar bactérias do guaranazeiro
visando especialmente o controle de um fungo nas lavouras da planta, mas também
com interesse de busca por micro-organismos com algum potencial
biotecnológico.”
Dessa primeira etapa, ainda na
iniciação científica, resultou a base do seu mestrado, desenvolvido no Programa
de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas, na Esalq. “Da rizosfera
do guaranazeiro separamos um grupo de 100 bactérias com o propósito de avaliar
o potencial de crescimento das plantas, mas como o cultivo do guaraná em São
Paulo não obteve sucesso devido às condições agroclimáticas, adotamos o milho
por apresentar uma composição microbiana relativamente compatível com o
guaraná.”
Do grupo inicial, a pesquisa
seguiu com a Rizobactéria Promotora de Crescimento de Plantas
(RPCP) Bacillus sp. RZ2MS9. “Trata-se de um representante da rica
biodiversidade amazônica brasileira e uma forte candidata a bioinoculante por
seu efeito benéfico em uma ampla gama de culturas, incluindo milho e soja, e
facilidade de formulação e sobrevivência em condições adversas, características
bastante buscadas em produtos biológicos”, explica.
SOLUÇÃO BIOTECNOLÓGICA
Em 2014, parte desse trabalho de
mestrado venceu o Prêmio Novos Talentos para Agricultura Sustentável,
iniciativa que aproxima jovens universitários da tarefa de aumentar a produção
de alimentos e intensificar a sustentabilidade dos sistemas produtivos. A premiação
despertou Bruna para a necessidade de encarar um novo desafio, o de levar essa
solução biotecnológica, que ainda engatinhava em escala de laboratório, para o
campo. “Para alimentar a população mundial crescente é necessário um aumento
sustentável na produtividade agrícola. Nesse sentido, RPCPs têm sido
continuamente buscadas para formulações inoculantes por sua capacidade de
incremento na produção vegetal aliado ao seu potencial de redução e/ou
substituição do uso de fertilizantes minerais, insumos que causam grandes
impactos ambientais, na saúde humana e econômicos”, avalia a biotecnóloga.
Da necessidade de refinar os
resultados, Bruna dedicou seu doutorado, também realizado na Esalq, à tarefa de
entender de forma detalhada os mecanismos de ação dessa rizobactéria,
explorando desde seu genoma até seu desempenho em condições de campo. No
Laboratório de Genética de Micro-Organismos, sob orientação do professor
Azevedo e co-orientação da professora Maria Carolina, identificou genes
relacionados às características de promoção de crescimento vegetal a partir do
RZ2MS9. “A análise genômica revelou que diversos genes potencialmente
contribuem com seu efeito promotor de crescimento vegetal, no entanto pudemos
confirmar que a produção do fitormônio Ácido Indol Acético (AIA) por essa
bactéria está diretamente envolvido nesse efeito benéfico.”
Na sequência, foi avaliado em
condições de campo o efeito sobre o desenvolvimento e produtividade de milho e
soja com a aplicação do bacilo. “No milho, o efeito da inoculação bacteriana
foi, ainda, associado à adubação nitrogenada para verificar a possibilidade de
redução desses insumos”, revela. Segundo a autora do trabalho, bioinoculantes
formulados com RPCPs consistem em uma fonte barata e não danosa ao ambiente de
suplementação nutricional vegetal. “Por esse motivo, a busca por
micro-organismos que possuam a capacidade de manter relações benéficas,
especialmente com gramíneas, é cada vez maior.”
E, de fato, os resultados foram
animadores. O potencial do Bacillus sp. RZ2MS9 mostrou-se bastante claro
pois, com um custo de produção inferior a R$1,00 por hectare, sua aplicação
aumentou o desenvolvimento de milho e soja e causou incremento de 16 sacas de
milho por hectare com redução de 30% na adubação nitrogenada, assim como um incremento
de 11 sacas de soja por hectare, ambos comparados ao controle não inoculado.
“As culturas do milho e da soja representam mais de 80% da área cultivada com
grãos no Brasil, considerando o tamanho desses mercados, incrementos
relativamente modestos de crescimento e produtividade podem gerar riqueza
significativa ao País. Portanto, é imprescindível dar continuidade a estudos
utilizando o Bacillus sp. RZ2MS9 em diferentes condições para a validação
dos resultados”, conclui.
Fonte: acritica.com